Marco França: Economia e negócios

Brasil da economia real

e o financeiro estão em

rota de convergência 

 

Está claro, e bastante batido na mídia, a narrativa dos juros baixos nas economias maduras e, mais recentemente, no Brasil. A Selic na casa de 2% vai forçar movimentos nunca vistos. Na superfície destes movimentos, vemos a bolsa voltar a patamares pré-crise, a despeito de condições inóspitas e incertezas no curto prazo relativas ao mercado, políticas e Covid. A confiança de empresários e gerentes em geral ainda não voltou apesar dos 100.000 pontos da B3.

Os últimos acontecimentos de compras e ofertas agressivas de empresas listadas, demonstra a busca pelo controle do fluxo e originação e estão menos pautados na clássica arbitragem de múltiplos de valor entre empresas listadas e não listadas. Quem pode, está tentando controlar fluxo de qualquer forma.

No lado das empresas não listadas, continuamos a perceber a dificuldade dos agentes financeiros mais tradicionais, de ponderar a liberação de crédito com sobrepeso na análise clássica de balanço patrimonial, subestimando a análise do modelo de negócios e a capacidade do time gestor.

Ainda que reconheçamos a beleza e a dificuldade de se emprestar às PME – Pequenas e Médias Empresas – com base em critérios mais abrangentes, entendemos que o modelo mais tradicional de liberar dinheiro ainda vai preponderar e deixará órfão por algum tempo boa parte do mercado deste segmento brasileiro. Os fundos e agentes, que tiverem a competência e método para escalar uma nova forma de análise, sairão na frente. Talvez a combinação de operadores de empresa experientes aliados à análise de crédito seja a solução no médio prazo.

Os FDICS (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) estão se multiplicando para o benefício da economia real e ainda existe muito espaço para crescer no mal explorado nicho de PME e de empresas em situações pontuais de estresse, na área de Fundos de Situações Especiais (Special Situations no jargão inglês).

A briga pela originação vai acontecer nos anos vindouros e veremos as taxas de juros cair substancialmente aos tomadores de crédito. Bom para as empresas, uma vez que elas terão mais chance de sucesso, longevidade e acesso a juros que caiba no seu orçamento e lucratividade do setor.

Apesar da queda da Selic, as taxas de crédito disponíveis às PME estão na casa de sete vezes a Selic para uma vasta gama de empresas no Brasil. Há que desconsiderar os movimentos recentes de produtos com subsídio de Governo que ficam em torno de 10%, mas a demanda aqui é infinita e o capital finito. O lucro bruto das empresas PME, em média, situa-se em torno de 10 a 15% ao ano, sem considerar necessidades de giro e investimento que afetam o caixa líquido no fim do dia.

Aos sobreviventes da Covid, haverá uma onda de consolidação de empresas e oportunidades de crescimento. Veremos empresas, agentes econômicos e plataformas de tecnologia se amalgamarem de forma cada vez mais intrincada nos próximos anos. A velocidade com que as peças estão se mexendo no tabuleiro de economia brasileiro é surpreendente.

 

(*) Marco França é engenheiro pela PUC Rio, com MBA pela Coppead (UFRJ)

e sócio-diretor da Auddas, empresa de gestão de negócio